Babu Santana comenta os efeitos da COVID-19 sobre a população negra durante a pandemia

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Babu Santana comenta os efeitos da COVID-19 sobre a população negra durante a pandemia

Racismo estrutural é apontado pelo artista como principal fator agravante da situação

 

Babu Santana vem se recuperando-se de uma internação por complicações da diabetes recém-descoberta, e vem vencendo esta batalha. Porém, o ator também tem grande preocupação pela vida de outros milhões de brasileiros que se tornaram mais vulneráveis após a pandemia de Covid-19 se espalhar pelo Brasil.

A falta de infraestrutura nas favelas é considerada pelo ex participante do BBB20 uma das explicações para a dificuldade dos moradores negros moradores das comunidades. Há décadas o poder público vem sendo negligente com a população carente. Jogados à sorte nas periferias, a sociedade pobre acaba por sofrer mais ainda com as consequências da pandemia. Por serem maioria nas favelas, os negros acabam por se tornarem os mais afetados. Babu espera que esta realidade mude o quanto antes para que o problema seja solucionado:

“Na favela há uma grande circulação de pessoas que sequer podem parar de trabalhar. As casas e barracos são colados ou extremamente próximos uns dos outros. Os becos, vielas e travessas também contribuem para que o contato seja maior. Ainda há a dificuldade de acesso a saneamento básico. Em alguns lugares os moradores chegam a ficar até três dias sem uma gota de água na torneira. Esses fatores explicam muita coisa, percebe? O racismo estrutural nos jogou nestas condições. O que esperamos, verdadeiramente, é que o poder público vá as favelas, olhe para elas!”, desabafa.

O assunto em questão ganhou maior evidência recentemente no cenário sociopolítico global após as manifestações antirracistas provocadas pela morte do norte-americano George Floyd. Apesar disso, Babu lembra que está é uma batalha antiga: “A luta antirracista não é algo novo, deste momento. A questão é que agora o racismo é gravado, mostrado aos quatro cantos do mundo. Então parece que agora estamos nos levantando, mas não. Essa luta é de muitos e muitos anos, desde que um cidadão branco achou que tinha que escravizar um preto. Eu vejo que as manifestações devem existir, mas isso não é e nunca será o suficiente. O caminho para um preto não é simples, cheio de flores ou tranquilidades. Então é necessário mais do que um grito ou um post nas redes, temos que ter políticas públicas que incluam, queremos pretos e pretas na política, na ciência, nas artes, mas em papel de destaque, de protagonismo, de liderança. Representatividade é algo que traz um sentimento de existência”.

A abordagem desta situação pode ser vista de forma diferente no Brasil e EUA. Vários fatores podem explicar esta distinção e, para o artista, um dos mais relevantes neste caso é o contexto histórico:

“Essa é uma questão profunda e que vale evidenciar alguns pontos super importantes. Primeiro, as atitudes só refletem o estopim das pessoas, o quão cansadas estão deste tratamento racista que nunca tem fim. Historicamente, é importante lembrar, também, que com a abolição as políticas escravistas dos Estados Unidos viraram o que chamamos de segregação social, isto é, em muitos estados americanos os pretos não podiam estudar em algumas escolas, nem tinham direito ao voto, e tão pouco contato com outros bairros e locais que se intitulavam como lugares de brancos. Então a consciência dessas pessoas pode estar baseada em: se talvez não agimos dessa forma, como vamos ver alguma melhoria? É um grito que não pode ser contido. Olhando para nós, neste Brasil, não houve uma política que explicitasse uma segregação social, embora seja óbvio que a desigualdade e racismo sempre prevaleceram. Por exemplo: um preto ganha menos, ainda que tenha formação igual a do branco. Ainda sobre as manifestações, não dá pra dizer que não manifestamos pelos nossos mortos. Quantas vezes vimos a favela descer? A diferença é que você não vê o morador do asfalto ir lá na entrada da favela apoiar aquelas pessoas”, explica.

Por último, Babu Santana lembra que o branco tem papel fundamental no caminho para esta mudança, e fala como enxerga os meios deles ajudarem na luta a favor da igualdade: “Primeiro de tudo, os brancos precisam reconhecer que nunca terão quaisquer dificuldades por conta da cor da pele. Indo além, é necessário que eles mostrem indignação quando não há um preto numa posição de destaque. É preciso treinar o olhar para ver que existe um problema quando há somente brancos numa mesa de reunião de trabalho. O antirracismo também precisa ser praticado nas redes sociais e no consumo de cultura. Você segue pessoas negras no Instagram? Lê autores ou assiste filmes feitos por negros? A mudança começa aí”.