Referência do potencial da mulher negra, Thelminha é capa da Marie Claire de novembro

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Referência do potencial da mulher negra, Thelminha é capa da Marie Claire de novembro

Na matéria, a médica e influenciadora fala das lutas diárias contra o racismo, da paixão pela dança, do desejo de ser mãe e de como vem se transformando na profissão

 

A médica anestesiologista, campeã da edição deste ano do Big Brother Brasil e influenciadora digital, Thelma Assis, alcança mais um patamar de destaque em sua carreira e debuta como capa da edição da conceituada revista Marie Claire, que irá às bancas a partir do dia 5 de novembro. A conquista, mais que merecida, parece natural se contextualizada com toda a trajetória de Thelminha que vem se consolidando como uma figura de extrema importância no cenário nacional, se tratando de representatividade e exemplo de sucesso e potencial da mulher negra. Veja fotos:

 

“Descobri que tinha sido adotada aos 14, com um telefonema anônimo”, revelou a médica a Marie Claire. Apesar do choque, a notícia trouxe força e resiliência à Thelma, que sempre foi amada e cuidada com muito carinho pela família adotiva. Desde então, ela cresceu e venceu sendo mulher negra em meio a uma sociedade machista e racista. Virou bailarina, formou-se em medicina e ganhou espaço no masculino mundo da anestesiologia.

Recentemente, participou e venceu o Big Brother Brasil 2020 – maior edição da história do reality show global. Ao voltar para cara, viu sua popularidade explodir nas mídias sociais, se consolidando como uma importante influenciadora digital da atualidade, referência na luta das minorias.

Esta é Thelma Regina Maria dos Santos Assis, que estampa a bela capa da Marie Claire, falando das lutas diárias contra o racismo, da paixão pela dança, do desejo de ser mãe e de como vem se transformando na profissão. Confiram alguns trechos dessa linda matéria, que chega às bancas ainda essa semana, na próxima quinta-feira (5):

A adoção

“Sou filha única, fui uma criança muito paparicada. Meus pais trabalhavam muito, ficavam praticamente o dia todo fora de casa, e quem cuidava de mim era minha avó Ordalina, uma mulher extremamente forte. A gente não tinha uma condição financeira muito boa, mas eles faziam questão de duas coisas: que eu tivesse uma infância lúdica e que estudasse. Fui adotada com três dias de vida, mas só soube disso aos 14 anos, depois de um telefonema anônimo. Minha mãe queria me contar quando eu fizesse 18. Achava que, com essa idade, eu teria maturidade para reagir à situação. Mas eu desconfiava desde os 7. Na minha certidão de nascimento estava escrito ‘nasceu em casa’. Sempre perguntava como tinha sido, se chamaram parteira… Minha mãe dizia que eu havia nascido do coração dela – o que eu entendia como uma maneira de ela dizer o quanto me amava. Só depois soube que minha progenitora não podia cuidar de mim e acabou me doando. O telefonema anônimo era para me deixar rebelde, mas sou uma pessoa muito resiliente. No dia, sentei com minha mãe e falei que o que eu mais precisava era de amor e carinho e isso eles me deram.”

O racismo

“Fui criada para viver em uma sociedade estruturalmente racista, com minha mãe dizendo que eu tinha que ser a melhor em tudo. Sempre precisei provar minha capacidade e foi minha determinação que fez com que eu me formasse em medicina com bolsa integral pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Era a única negra da turma de 100 alunos, e fui a única durante meus 15 anos de balé clássico. Só no Miscigenação, grupo de passistas da escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo, divido a cor e os sonhos com meus colegas. É triste estar sozinha em todos esses lugares. Em meu discurso de entrada no BBB, disse que estava na hora de um negro ganhar. Sou uma médica totalmente fora do perfil do programa, que antes só tinha mostrado o estereótipo do médico homem e branco. Não entrei para levantar bandeiras, mas essas causas que fazem parte da minha vida.”

A profissão

“Existe uma responsabilidade muito grande em estar na TV aberta, ainda mais falando sobre saúde em meio à pandemia. Mas eu amo desafios, sou uma esponja para aprender e sempre busco o feedback do diretor e do Manoel [Soares, repórter]. É muito importante continuar me colocando como médica, mas também faz parte do meu papel ser uma comunicadora. O Drauzio Varella já faz isso há tantos anos, por que não uma mulher fazendo o mesmo? Ainda mais porque as pessoas se identificaram comigo. Percebo isso com meus 6 milhões de seguidores do Instagram. No começo, achei que era só admiração, mas agora entendo o verdadeiro significado da palavra representatividade. Meus fãs se identificam com a minha história e os sonhos que compartilhamos, e meu maior orgulho é ter tantos seguidores acadêmicos de medicina. Claro que tem uma parte ruim, infelizmente alguns acham que a internet é terra de ninguém e saem me ofendendo nas redes. Isso causa um impacto psicológico grande.”