Thelma Assis: “meninas pretas podem ser tudo o que elas quiserem”

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Thelma Assis: “meninas pretas podem ser tudo o que elas quiserem”

Médica fala sobre maior representatividade de mulheres negras em todos os setores da sociedade

Em conversa nesta segunda-feira (08) com a Propmark, a médica anestesiologista Thelma Assis fala da relação com o mercado anunciante, da busca por uma maior representatividade na televisão e nas campanhas publicitárias e da importância de continuar debatendo questões em prol da desigualdade racial e de gênero. Confira alguns trechos da entrevista:

Depois da vitória no BBB 20, como você vem conciliando a vida de médica com a de pessoa pública?

Primeiramente, entendi que poderia fazer um link entre a comunicação e a medicina. Consegui enxergar isso melhor a partir do momento em que comecei a trabalhar com saúde no programa Bem Estar, na Globo. Então, esse papel da médica que fala e orienta é muito especial. Além disso, me obriga a estar sempre estudando e me atualizando. No futuro, não penso mais em trabalhar da mesma forma que anteriormente, por exemplo, no esquema de plantão. A minha meta agora é tentar conciliar a medicina com a comunicação e, quem sabe, partir para uma área mais assistencialista ou criar uma ONG.

Aliás, mesmo depois de famosa, você foi para Manaus ajudar as pessoas no combate à Covid-19, certo? Essa foi a sua volta para o trabalho de médica?

Sim. Estava há quase um ano sem exercer a profissão quando decidi ir ajudar as pessoas que enfrentavam a Covid-19 em Manaus, no Amazonas. Não era para divulgar na mídia. Fui na surdina, mas chegando lá tive o reconhecimento dos próprios profissionais de saúde. O engraçado é que achei que isso poderia acontecer com os acompanhantes, mas no hospital em que trabalhei, o 28 de Agosto, os pacientes não podiam ter acompanhantes, ele estava destinado apenas ao atendimento da doença. A experiência foi muito gratificante e, ao mesmo tempo, me deu um start de que é preciso conciliar a dra. Thelma com a participante do Big Brother. Quando exerço a minha profissão esqueço do programa, estou ali para ajudar as pessoas. Só lembro mesmo quando alguém vem pedir uma selfie.

 

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Você já estrelou campanhas dos mais diversos segmentos. Como está sendo a sua relação com os anunciantes?

Tenho uma assessoria de publicidade que me ajuda. Acredito que o bom desempenho com as marcas está ligado a minha imagem e ao bom trabalho da minha equipe, que me assessora da forma correta. Isso é muito importante. Ouço muito que os anunciantes gostam de mim, que me enxergam como uma mulher que transmite força e representatividade. Então, recebo feedbacks positivos e busco transmitir para a marca aquilo que eles estão esperando. Apesar de não trabalhar com isso antes, entendi que para trabalhar com a mídia e com o marketing é preciso ter umamente criativa para que o público se identifique com a mensagem. Venho aprendendo e tendo uma troca muito boa ao longo desses meses, afinal, não faz nem um ano.

Antigamente, a mulher preta não se reconhecia na publicidade. Acredita que as empresas estão mais abertas à diversidade?

A impressão que tenho é que antigamente as marcas seguiam uma cota. Era interessante ter uma menina de cada etnia na campanha para ter um pouco de representação. Hoje, as empresas fazem isso com orgulho. Elas querem ser vistas como marcas que levantam a bandeira da representatividade. Então, trazem pessoas negras, mulheres e o público LGBTQIA+ em suas ações. Somos um país onde mais de 50% da população é preta e eles precisam se enxergar na publicidade. Só assim vamos nos sentir representados para poder consumir aquilo que a marca espera que a gente consuma. Acredito que tudo ainda é um processo, mas estamos conseguindo. Antigamente, quando fiz a minha transição capilar, não encontrava tantos produtos para cabelos crespos e cacheados, como vemos hoje. Isso também é uma vitória para as mulheres pretas. Entendemos que não precisávamos respeitar um padrão imposto pela sociedade, que era o do cabelo liso, e o que importa mesmo é que você se sinta bem. Isso foi um resgate da nossa identidade e um movimento de empoderamento. A transição capilar é mais do que um padrão estético, é todo um contexto de autoconhecimento.

Quais são as perspectivas para 2021?

Sou muito otimista em relação à ciência. Fiquei muito feliz com a chegada da vacina e tenho acompanhado tudo bem de perto. Estou ansiosa para que chegue logo na faixa etária da minha mãe e da minha sogra. E, claro, da minha e do meu marido também, mas isso ainda vai demorar um tempinho. Com 70% ou mais da população vacinada vamos ter uma faixa maior de segurança. Tenho uma visão realista e também otimista. Vamos sair dessa pandemia com vários aprendizados. No campo artístico, quero continuar o meu trabalho no programa Bem Estar, fazendo as minhas consultorias de saúde. Quero continuar atuando na publicidade e, na internet, teremos duas novas temporadas do programa Triangulando. Além disso, vou lançar um livro, que vai contar um pouco mais da minha história de vida.

A íntegra do bate-papo você pode conferir no Jornal Propmark.

Trajetória campeã

A médica  Thelma Assis ganhou notoriedade na mídia após participar e vencer a 20ª edição do reality show Big Brother Brasil. Agora, ela conta com um quadro de saúde no ‘É de Casa’, na Globo, se tornou porta-voz de várias causas, é influencer, virou garota-propaganda de marcas de beleza e até da Prefeitura de São Paulo, além de acumular milhões de seguidores em suas redes sociais e de views em seu canal no YouTube. Como não amar Thelminha?

Ela atuou na linha de frente contra a Covid-19 no maior hospital do Amazonas, o Hospital 28 de Agosto, em Manaus. A médica afirmou que já vinha se engajando na campanha “Respira Amazonas”, desde as primeiras notícias da situação da cidade. Após ajudar na campanha de arrecadação de cilindros de oxigênio e insumos ela optou ir para Manaus, “para dar todo o suporte necessário como médica nos hospitais”.

E não para por aí, Thelma Assis agora integra o primeiro grupo da iniciativa “Fundo Vozes Negras” do YouTube. O anúncio, que tem sido realizado nas últimas semanas, traz uma lista global de projetos originais dedicados a amplificar os criadores de conteúdo negros de todo o mundo. Ao total foram selecionados 132 canais que irão receber recursos e mentorias da plataforma de vídeo para produção de conteúdos em seus canais oficiais. Os novos projetos foram viabilizados por um fundo de US $100 milhões anunciado em junho de 2020 pela CEO da plataforma, Susan Wojcicki.

“Estou muito feliz com a sua participação no Fundo Vozes Negras do YouTube! Este fundo é apenas uma parte de nosso esforço contínuo para fazer da nossa plataforma um lugar onde negros e negras possam compartilhar suas histórias e serem acolhidos”, comenta Thelminha sobre sua participação no projeto.

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